domingo, 4 de setembro de 2016

PEDRA DOS OSSOS
O extermínio de inocentes

HISTÓRIA DE ITAPAJÉ



PEDRA DOS OSSOS
O extermínio de inocentes

.... O Cabra Honorato, servil empregado do sanguinário Coronel João,  retorna do acampamento improvisado dos retirantes, uma furna no interior de uma  enorme rocha, cujo formato de uma abóboda enorme, caprichosamente esculpida pela natureza, que servia de abrigo à família. O Coronel indaga sobre a situação: "Tudo tranqüilo! ", responde friamente Honorato, tudo indica que foram eles mesmos que roubaram o seu garrote e o cavalo
O Coronel assevera com rancor: "Tá na hora desses infelizes ciganos me pagarem pela furto do boi e do cavalo que roubaram!", vocifera com voz gutural – fúnebre, lúgubre. Parecia o diabo em pessoa. Honorato pergunta: "vamos assustar ou matar tudim!". Novamente, grunhindo e mostrando um sorriso sarcástico o diabo fala: "Não! vamos mandá-los para o inferno! Os maltrapilhos serviçais auxiliares de Honorato falaram: "Sim Senhor! ".
Após este ligeiro diálogo, Coronel João Lopes, acompanhado de seus fâmulos, manda seus jagunços recolherem arbustos secos e depositarem na entrada daquela moradia improvisada, onde uma família dormia o pesado sono dos desafortunados. Para se protegerem de animais selvagens, principalmente onças, mantinham, sem pré no período noturno, uma fogueira, a fim de afugentar esses possíveis predadores.
 Uma tocha é acesa pelo Coronel na fogueira - as mesmas chamas que eram utilizadas para os salvarem das feras, agora serviriam para tirar-lhes às vidas. Assim, os servis jagunços do Coronel, após amontoarem uma grande quantidade de madeira e folhas secas. Por causa do vento que soprava para o interior da caverna, uma grande labareda ocupou rapidamente aquele pequeno cômodo, que servia de residência para os infelizes retirantes. O fogo não mais servira para protegê-los, mas sim, agora, para tirar-lhe à vida!....




Abaixo, transcrevo, na íntegra, um “Projeto Cinematográfico” de autoria de Tato Assunção: “ PEDRA DOS OSSOS – QUANDO A SECA MALTRATA E IMPÕE AOS HOMENS A MALDADE”, que me foi cedido pelo Dr. Francisco Júnior Barroso Bastos, em outubro de 1998.

PEDRA DOS OSSOS

A Triste Realidade da Seca em nossa região.

 “O mito e a lenda se fundem no imaginário popular de um povo. Em nossa região, certos acontecimentos antigos, ocorridos possivelmente , no início do século 20, quando a região foi assolada, por mais uma grande seca. Daí dão-se asas à imaginação popular, principalmente quando tais fatos envolvem fatos em que seus protagonistas, vítimas da crueldade que as constantes secas que ocorreram e, continuam a maltratar, dizimando, as vezes grande parcela da população, em especial a dos mais pobres. ocorreram ficcionados pelos caboclos do sertão Nosso propósito é o de ficcionar este episódio com atores consagrados nacionalmente em conjunto com atores cearenses, em um filme intrigante e ao mesmo tempo atual, pois as manchetes dos jornais expõem ainda hoje o devastador mal que nos traz a seca que transforma inocentes em criminosos e homens detentores do poder em assassinos.
Milhares de pessoas visitam uma pedra onde em 1915 durante a grande seca que assolou nosso estado, uma família foi inteiramente dizimada com requintes de crueldade, porque fora injustamente acusada de roubar um boi pertencente a um poderoso Coronel, proprietário de uma fazenda localizada nas proximidades do local onde ocorreu a chacina.
Esta pedra tornou-se local de preces e orações, pois romeiros acreditam em milagres atribuídos à esta família injustamente carbonizada no interior da gruta. Esta história nos deixará  a certeza de que os injustiçados estão mais perto de Deus!
Esta tragédia aconteceu na localidade de Balança, no município de Itapajé, (Nota do autor: Na época Itapajé ainda chamava-se São Francisco de Uruburetama) zona rural do estado do Ceará, no ano de 1915."
Durante a grande seca que assolou o nordeste naquele ano, diversos sertanejos migraram para as cidades e povoados em busca de sustento e de um lugar melhor para se estabelecerem e tocarem suas vidas sofridas.
Uma destas famílias flageladas, a do seu José Severino, formada por sua esposa, D. Maria de Lurdes e seus filhos: Francisco,  rapaz inteligente, 19 anos, bom vaqueiro; orgulho do pai, uma moça chamada Maria das Graças, apelidada de morena, traços finos, cabelos longos, prendada, tinha 15 anos e, por fim, uma menina com 5 anos que o sofrimento não deixou batizá-la, por este motivo ficou sendo chamada de Neném, criança não muito sadia, pois a poeira e o calor da estrada tinham comprometido seus pulmões.
"A caminhada já durava dias. Com medo das famintas onças que habitavam esta região, dormiam trepados em galhos secos de árvores destruídas pela medonha seca. Alimentavam-se de pequenos roedores, especialmente o “rabudo”, espécie de rato, só que bem maior e aves, muitas vezes devorando-os crus, utilizando o sangue como água.
Certo dia, quando já lhes faltava esperança, uma miragem: Surgiu uma gruta. Agradeceram a Deus aquele local que poderia abrigá-los temporariamente por alguns dias, pois, próximo, havia uma nascente, onde animais silvestres vinham beber as últimas gotas d'água que brotavam da terra. Durante a limpeza do local, encontraram vestígios que os levaram a crer que se tratava de uma toca de onça, mas a necessidade falava mais alto do que o medo.
Após a primeira noite de vigília, nada ocorrendo de anormal, resolveram se estabelecer por algum tempo neste local. Severino e seu filho Francisco foram à busca de trabalho nas fazendas próximas, levando às vezes o dia inteiro percorrendo a caatinga atrás de serviço. O trabalho se tornara escasso, pois parte do rebanho desta região havia morrido.
Os ciganos, andarilhos nômades que roubavam gado e raptavam donzelas, geravam nos fazendeiros um ódio mortal. Por este motivo, muitas vezes seu Severino era confundido com tais elementos perigosos, sendo enxotado dos terreiros das casas de fazenda a pedradas e pontapés.
Certa noite, após ter sido confundido com um cigano, Severino, ao chegar a sua primitiva morada, depara-se com os jagunços que o haviam enxotado de uma fazenda pertencente a um rico Coronel chamado João Lopes. Temerosos, com os castigos que os aguardavam, pois haviam dado falta de um boi de propriedade do terrível Coronel, passaram a acusar o pobre flagelado.
Ao chegarem na  fazenda, juntaram-se ao Coronel que os aguardava no alpendre da casa de fazenda com uma tocha na mão; embrenharam-se pela noite até o curral onde contaram o gado que ainda sobrevivia. Figuras esqueléticas apareciam diante do clarão da tocha, assemelhavam-se a armações de arame encobertas por couro; de alguns rabos, devorados por animais, nada sobrara, eram animais dignos de um sacrifico.
O Coronel, comerciante astuto e letrado, dá por falta de um boi que era dentre todos o melhor, impõe aos jagunços uma tortura: ou o boi aparecia, ou findava ali a vida de um deles. O mais astuto dos jagunços de nome Manoel, de pronto atribuiu aos ciganos o roubo do tão estimado animal. Ao ser indagado pelo Coronel, Manoel não titubeou em indicar aquela pobre família de retirantes como autora do delito. De imediato, o Coronel mandou selar sua montaria: um cavalo avermelhado já bastante castigado, pois em sua barriga se percebia a tamanha brutalidade que o par de esporas de seu dono lhe causara durante anos. Ao ser montado pelo Coronel, pinota e sai atravessado; por seu gesto natural ganha mais um talho proveniente daquele objeto cortante de prata.
Severino e sua família estavam ao redor de uma fogueira, agradecendo a Deus aquela pobre refeição que tinha seu cheiro fétido sentido à distância, e uns tostões ganhos por seu filho Francisco, que havia  conseguido amansar um burro bravo. O ganho do dia que lhe rendeu a farinha e um corte de chita para vestir suas irmãs, já quase desnudas, com seus corpos frágeis à mostra entre molambos. Assustam-se com a quebradeira de galho seco. A Neném, põe-se a chorar, D. Lurdes apreça a reza. Mocinha agarra a neném e corre para o interior da caverna. Os dois, pai e filho, ficam à espreita com pedras nas mãos. Quando de repente, surge na noite um clarão formado por tochas carregadas pelos cavaleiros, que após algum tempo de cavalgada chegavam à caverna, onde Severino e sua família se preparavam para devorar aquele pequeno animal que torrava, no braseiro e engolir a seco aquela farinha encaroçada.
O Coronel manda que os jagunços os açoitem; derramam a farinha e pisoteiam aquela que seria a primeira e única refeição daquele dia. D. Lurdes reza e pede por seu marido e filho; as meninas se agacham no interior da caverna, tentando não emitir um resmungo sequer, para não, serem descobertas. Manoel acusa Severino do roubo. Severino pede,piedade e se inocenta; seu filho não agüentando a surra desmaia. Para desespero, o Coronel desmonta e cutuca Francisco com sua chibata, cospenaquele pobre corpo desmaiado e o chuta; dirige-se a Severino, interrogando-o severamente sobre seu animal que sumira. D. Lurdes inocenta sua família e pede clemência. Coronel João Lopes ouve as lamúrias da pobre mulher e pede para que até o fim do dia seguinte seu boi seja devolvido, sendo assim, nada lhes ocorreria; acreditando no Coronel, D. Lurdes de joelhos beija-lhe a mão e promete que assim será. O Coronel João e seus jagunços montam e saem a galope retornando à fazenda.
Ao chegarem na fazenda, encontram D. Irene, mulher alva, religiosa, que não tolerava a maldade com a qual seu marido João Lopes conduzia sua vida, mas tinha que agüentar calada. Ao se despir para banhar-se, João Lopes joga suas botinas de lado; D. Irene observa aquela mancha vermelha amarronzada, cor de sangue já talhado, nas botinas de João Lopes e o interroga sobre a maldade do dia. Irritado, ele fala que interrogara alguns ciganos sobre o sumiço de seu boi. D. Irene vai até sua capelinha, onde velas queimam em gratidão por promessas alcançadas; ela reza e pede por aquelas almas, são 4 velas, cada uma corresponde a uma vida salva recentemente por suas orações, das garras de seu temível marido. Ela roga em sussurros, mais uma vez aos Santos ali presentes, pela vida  desta pobre alma que fora açoitada.
Enquanto isso, na caverna, o dia amanhece; Severino limpa os ferimentos de seu filho, D. Lurdes peneira a areia com as mãos em busca dos restos de farinha. Neném dorme enrolado em um dos cortes de chita. Mocinha, cantarola baixinho a única musica que aprendera com um Padre que passara em sua casa há muito tempo e ensinara o catecismo.
Francisco se recupera e caminha trôpego até uma árvore, onde havia escondido o restante dos réis que sobrara da diária recebida no dia anterior. Entrega uma parte a seu pai que a enterra novamente; resolve então ir ao vilarejo mais próximo comprar querosene e mais alguma coisa para comerem.
Honorato, outro capanga do Coronel, por ordem do mesmo, observava o movimento, escondido atrás das pedras que circundavam a gruta. Ele viu quando Severino recebeu o dinheiro de Francisco. Correndo apressadamente até à fazenda, Honorato narra o fato para o Coronel.
O Coronel entende que a cena assistida por Honorato seria a partilha do dinheiro apurado com a venda do boi que havia sumido. Sua decisão imediata condena aquela pobre família à morte. Ao ouvir a sentença, D. Irene corre para seu santuário e começa a rezar, rogando pelas almas daqueles flagelos humanos. Como era de praxe, a sentença seria executada  na calada da noite.
Para que aquela família não ficasse sem um ente na terra para continuar, Deus se fez em forma de um viajante que conduzia uma tropa de  burros. Ao passar próximo à gruta, o viajante chama Francisco para , acompanhá-lo até um lugarejo a um dia de viagem de onde estavam, pois não conhecia a trilha. O viajante deu a Severino um punhado de feijão, farinha e rapadura, para que eles se alimentassem até o regresso do filho.
Fizeram uma refeição, e ficaram de prosa até que o sol esfriasse um pouco.  O viajante, em um dos caçoás, carregava uma encomenda feita por um comerciante: bonecas de pano. Retirou uma e deu à Neném, que apressadamente foi mostrar à irmã. As duas brincam como crianças da mesma idade. Já ia longe o dia que tamanha felicidade passara pelo menos  perto daquela família. Despediram-se. Dona Lurdes olhava o filho se distanciando, como se fosse a última vez que se viam. Acena para ele, enquanto lágrimas descem de seus olhos. As meninas, alegres com o brinquedo, nem perceberam a partida do irmão. Severino, chega ao lado de  D. Lurdes e cochicha em seu ouvido: "Eles vão com Deus muié, não te preocupa. Rapidinho Francisco tá de vorta  aqui com mais dinheiro, aí nós  vai prá cidade grande! "
Anoitece. Na fazenda, Coronel João Lopes reúne seus jagunços; acendem uma fogueira e traçam os detalhes finais da chacina. Após a chegada de Honorato com as montarias seladas e arriadas, cada um toma um trago de cachaça na boca da garrafa e monta seu animal; Coronel nota a Falta de seu cavalo e pergunta por ele; Honorato responde: "Procurei por ele na manga e não o encontrei! ", aumentando assim a fúria de seu patrão, que acusa novamente a família de Severino. Se em seus pulmões houvesse Fogo, escarraria naquele pobre diabo a sua frente.
Novamente tomam a trilha em direção à caverna. No alpendre da casa D. Irene, com uma lamparina em uma das mãos e um terço na outra, observa a partida daquele grupo de indivíduos horrendos. Entra na casa e fecha a porta e a janela lentamente; olha para seu santuário e vê quatro velas se apagarem sem motivo algum, ficando somente a última, que ela acendera sua chama, cintilava com um brilho diferente. D. Irene vai para seu quarto e põe-se a chorar, pois após o ocorrido com as velas, desconfia que fora um sinal de que Deus precisa daquelas almas a seu lado.
Coronel ordena que parem; manda que somente Honorato vá a pé na frente para verificar o movimento. Tudo tranqüilo para a execução dos planos elaborados pela mente doente daquele que se dizia Coronel, coisa comum no Nordeste daquele – e de ainda hoje.
O dia Feliz que a família passara, deixou-os cansados; alegres, foram dormir após uma prece em agradecimento. A fogueira estralava: Era este o único som que se ouvia. Acesa na entrada da gruta, foi colocada ali na entrada para afugentar os animais, propositadamente.
Honorato retorna ao covil; Coronel indaga sobre a situação: "Tudo tranqüilo! ", responde friamente Honorato. "Tá na hora destes ciganos me pagarem o boi e o cavalo que roubaram!", branda o diabo em pessoa. Honorato pergunta: "vamos assustar ou matar tudim!". Novamente, grunhindo e mostrando um sorriso sarcástico o diabo fala: "Não, vamos mandá-los para o inferno antes que me digam quem foi que comprou o roubo!". Os maltrapilhos serviçais falam baixinho: "Sim Senhor! ".
Após este ligeiro diálogo, Coronel João Lopes manda seus jagunços recolherem arbustos secos e depositarem na entrada daquela moradia improvisada, onde uma família dormia o pesado sono dos desafortunados. Uma tocha é acesa pelo Coronel na fogueira; não adiantou acender aquele fogo para se protegerem, por que o mais temido dos animais utilizaria como arma para acender aqueles garranchos embebidos em querosene, depositados na entrada da gruta. Por causa do vento que soprava para o interior da caverna, uma grande labareda ocupou rapidamente aquele pequeno cômodo.
Nos olhos arregalados dos jagunços brilhavam as chamas que aqueciam aquele forno crematório. À espera dos habitantes, que já não estavam mais ali em espírito, Coronel João batia na botina com sua chibata resmungando: "Saiam que nada lhes ocorrerá; só quero o que é meu de volta!". Um silêncio melancólico na noite. O fogo já havia consumido aquelas vidas. Desconfiado de que não teria resposta e sentindo cheiro de carne queimada, convocou seus monstros a se retirarem dali. Ao chegarem na fazenda, bebem até estatelarem seus corpos no chão batido do terreiro.
Amanhece na fazenda; D. Irene, que adormecera em prantos, acorda com o ronco de seu marido que dormia em uma rede imunda na varanda próxima à janela do quarto do casal. Ela caminha até seu oratório, olha para as velas apagadas e reza para que a que ficou acesa, já desgastada pelo fogo, não se apague tão cedo; acende outra na chama que míngua e a coloca ao lado da imagem de São Francisco de Assis, padroeira da cidade de São Francisco de Uruburetama. Caminha até à cozinha, põe a água no fogo para coar um café para o desjejum; enquanto isso seu marido acorda e caminha trôpego até à cozinha; toma água na boca da moringa, bochecha e cospe pela janela espantando as galinhas que ciscavam os restos do jantar.
João caminha até à varanda da cozinha, onde molha a cabeça com a água que sobrou na moringa; de pronto D. Irene está a seu lado com um ,pano para lhe enxugar a cabeça. Ele retorna à varanda da frente, passa a vista na paisagem e vê seus moleques adormecidos escorados na cerca; retorna à cozinha, pega um balde d'água, contorna a casa onde depara-se ,com sua montaria que havia sumido, corre e despeja sobre àqueles que após servi-lo dormiam, o sono dos bêbados. Eles acordam espantados; já de pé, e em silêncio, se dispersam e vão em busca de suas taperas. Honorato é chamado para aprisionar o animal no curral. Ao chegar no curral, Honorato, presencia o gado vindo com o vaqueiro, à frente estava o boi sumido que se  juntara  ao rebanho durante à noite, pois sumira atrás de pasto em outra propriedade.
Na entrada da gruta via-se a marca do ocorrido. Havia fuligem nas pedras; um fiapo de fumaça ainda saía das cinzas. O cheiro de carne humana assada era terrível. Dentro, quatro corpos, agarrados uns aos outros, semi carbonizados, colados por um misto de  sangue e fuligem.
Francisco vinha contente cantarolando pela vereda de acesso, pois havia conseguido um emprego no lugarejo. Ao avistar a gruta, ele nota que algo estaria errado, pois sua família não estava por perto.
Ele corre até a entrada da gruta que por muito tempo servira de moradia a sua família, e depara-se com aquela terrível cena; vê o mundo rodar e desmaia, Passadas algumas horas ele acorda, chora e grita rogando por Deus sem saber o que fazer e o que ocorrera. Respira fundo e tranqüiliza-se; caminha até um areal próximo e com as mãos começa a cavar uma cova comum, para dar um sepultamento digno a sua família. Para adiantar, quebra uma quartinha e com os cacos apressa-se em cavar. Ele friamente desgruda  os corpos e os conduz um a um para a cova rasa; enterra-os com a areia que retirara do buraco e depois cobre com pedras. Para lembrar que ali está  enterrada uma família, ele faz uma grande cruz com troncos secos. Reza e se vai sem olhar para trás,  pela mesma trilha que viera.
Dona Irene interroga seu marido que se encontra na sala fazendo contas antes de viajar para a capital: "O boi que está no curral não era o que tinha sumido? ". João Lopes responde zangado: "Era, dissestes bem, pois amanhã vai sumir no sal, antes da minha viagem. Vai virar charque!". - Irene caminha até à varanda, de onde avista um vulto cruzando a estrada de acesso à fazenda indo em direção ao lugarejo. Era Francisco que caminhava em direção ao povoado, onde havia arranjado emprego. Ele pára  olha para aquela triste senhora; acena para ela, dá as costas e se vai pela  vereda rezando baixinho. Sua alma está triste, no entanto tem Deus em seu coração.
No povoado, Francisco encontra o Padre que no passado, em sua casa, havia ensinado o catecismo a ele e a sua irmã..... (Nota de Ribamar Ramos: Se verdadeira essa história, o padre era o 7.º vigário de São Francisco de Uruburetama, Monsenhor Catão Porfírio Sampaio, que tomou posse como vigário encomendado, em outubro de 1904. Deixou o paroquiato em 1930, passando a residir em Fortaleza, onde faleceu a 3 de março de 1952. Dinâmico e apostólico, o seu longo paroquiato de quase 30 anos deixou indeléveis benefícios a esta terra, merecendo ser agraciado com o título de Camareiro Secreto de Sua Santidade o Papa).....
 .... Francisco conta o que ocorreu; o padre o conforta. O padre resolve então ir até o local da tragédia. Ao chegar na entrada da gruta faz o sinal da cruz e reza. Caminha rezando até o local onde os corpos estão enterrados; ajoelha-se e reza pelas almas, desencarnadas. Um forte vento corta a mata levantando poeira. O vento assusta o homem Santo que sente a presença de Deus. Para se proteger,  entra na gruta que fora a penúltima morada daquela família que encontrara ali perto,  sua última morada. Encontra em um canto a boneca chamuscada. Pega, olha e a coloca novamente no local, enquanto isso o vento pára e  então ele resolve partir.
Muito tempo depois, o padre já bem velho,  retorna à gruta, procurando a boneca e não a encontra. Ele reza mais uma vez como fizera na última vez em que estivera ali, caminha até o jazigo onde os ossos da família de Francisco estavam à flor da terra, retira-os e os arruma dentro da gruta onde  permaneceram até retornarem ao pó.
Este fato espalhou-se pela região, fazendo com que romeiros buscassem naquela gruta uma proximidade com Deus. Hoje em dia, pessoas pagam promessas, a graças concedidas por Deus através dos que na PEDRA DOS OSSOS, tiveram suas vidas friamente arrancadas”.

Existem outras versões desse episódio. Que vêm ratificar essa história acima.  Em agosto de 1999, em entrevista que fiz com D. Maria Brioso, residente no local onde ocorreu esse fato pitoresco e lamentável. Contou-me, em entrevista, os fatos ocorridos na Pedra dos Ossos. Segundo a mesma, seu pai e seu avô, foram testemunhas oculares desse episódio.
Faça aqui um agradecimento especial ao Dr. Francisco Júnior Barroso Bastos, pelo documento-roteiro de um filme que SERIA feito sobre o episódio “Pedra dos Ossos”, que seria produzido e dirigido por Tato assunção, que infelizmente não obteve eco, nem tão pouco, interesse em patrocinar investimentos, para sua concretização, fatos que, com certeza teria importantes retornos – para a História de Itapajé. Mais uma evidência que, em Itapajé, os resgates de nossa História, não despertam qualquer motivação. Faço aqui, mais um  voto de repúdio aos “nossos ilustres” representantes da Cultura de Itapajé, o que é um fato lamentável! (Ribamar Ramos – Fortaleza 3 de setembro de 2016). 


FOTOS DA PEDRA DOS OSSOS

ICONOGRAFIA




























FRASES DO DIA

“Aprimorar a paciência requer alguém que nos faça mal e nos permita praticar a tolerância”. Dalai Lama

"Tudo já foi dito uma vez, mas como ninguém escuta é preciso dizer de novo."  André Gilde. 

“Antes que  o ´Deserto´ me vença, continuarei a teimar em tentar resgatar a história de Itapajé, mesmo que timidamente!” – Ribamar Ramos. 

“NÃO FOMOS, NÃO SOMOS, E NUNCA SEREMOS ESQUECIDOS”
"NON FUIMOS, NON SUMUS, ET QUI NUNQUAM OBLITI ERIMUS"
(Ten. Cel. João Paulino de Barros Leal - Presidente da Assembléia Legislativa do Ceará, período 1887-1888)

"Quanto a mim escrevo até este ponto; o que depois se passou, talvez outro queira tratá-lo". - Xenofonte.

Ribamar Ramos       
Fortaleza 3 de setembro de 2016
BOA NOITE / BOM DIA.

"Acredite! É possível tornar Itapajé e sua história mais conhecida, principalmente por e para seus filhos!  Basta não desistir!!!" Ribamar Ramos.


FONTES:
- Projeto Cinematográfico "Pedra dos Ossos - Quando a Seca maltrata e impõe aos homens a Maldade - Tato Assunção - Outubro de 1998.
- Pequena Cronologia de Itapajé - Ribamar Ramos
- Entrevista com Dona Maria Brioso - 1998

AGRADECIMENTOS:
- Tato Assunção - (Autor do Projeto)
- Francisco Junior Barroso Bastos - Dr. Bastos
- Manuel MACEDO Araújo - (PMItapajé) apoio logístico 2012).

PESQUISA e ICONOGRAFIA (©):
- Ribamar Ramos

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JOSÉ RIBAMAR RAMOS

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