TÚNEL DO TEMPO DA HISTÓRIA DE ITAPAJÉ
45 ANOS DEPOIS... (16.436 dias)
JÚLIO PINHEIRO BASTOS
COMEMORA NATAL EM FAMÍLIA....
45 ANOS DEPOIS... (16.436 dias)
JÚLIO PINHEIRO BASTOS – O PROTAGONISTA DA “GRANDE CILADA”.
Foi assim, que comecei a narrar um dos mais macabros casos Policiais – e
de extrema injustiça, ocorridos na Rica História de Itapajé. DEPOIS DE 16.436
dias – até hoje –dia 23 de dezembro de 2015. EXATOS 45 ANOS.....
Hoje, dia 11 de junho de 2012 – Segunda
feira. Vamos finalmente, conhecer um pouco mais da vida e da história de Júlio
Pinheiro Bastos. Todos os textos serão transcritos de documentos, devidamente
identificados. Bem, para início desta série de postagem vamos conhecer Júlio
Pinheiro, por ele próprio. O texto abaixo foi transcrito do livro: O CRIME DE
ITAPAGÉ E A RECENTE SENTENÇA, do Dr. Colombo Dantas Barcellar. A fotografia
acima foi também digitalizada do mesmo documento.
"Sou
filho de Itapajé, aonde nasci a l2 de julho de 1895. Ali me criei e me casei, a
13 de junho de 1923, com Francisca Barroso Bastos, na intimidade MIMOSA, de
cujo consorcio tivemos três filhas, todas muito bem casadas e felizes.
Filiado à
Confraria de São Vicente de Paulo, durante minha vida tenho pautado os meus
atos dentro dos ditames da Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana. E um dos
meus primeiros atos foi efetuar a reconstrução da primeira igreja edificada no
município de Itapajé, nos idos de 1775, por Frei Vidal da Penha. Em seguida,
construí a igrejinha de São José da Vila Mimosa, na minha fazenda, em Irauçuba.
Eduquei
minhas filhas dentro dos rígidos preceitos da religião católica, e eu e minha
querida esposa continuamos, como católicos praticantes, a adotar os
postulados da Santa Igreja.
Chamado a
reger os destinos da comuna itapageense, no período de 1954/1959 atendendo aos
desejos dos meus co-munícipes, procurei, à frente da comuna municipal, pautar
os meus atos dentro dos princípios de austeridade e do labor honesto.
Envolvido no
chamado CASO DE ITAPAJÉ pelo fruto da intriga soez e da insídia, do despeito e
da baixa politicagem, elementos pérfidos entenderam de usar o prestigio
policial da época, para mal fazer a quem, como e eu, não se deixou levar no
roldão da baixa politiquice de aldeia.
Entenderam
esses elementos mal-avisados de que o único meio de liquidar o meu pequeno
eleitoral da época, seria o de caluniosamente me inculcar como o responsável
intelectual pelo hediondo assassínio de um militar, o capitão Francisco Teixeira
Braga. Este, que era parente próximo de minha mulher, tinha vários
inimigos e possuía desafetos até dentro de sua própria família; e foi
traiçoeiramente abatido na noite de 1 de dezembro de 1957
O aparato
militar naquele município, o corre-corre às testemunhas de acusação para me
malfazer, as insinuações às mesmas ministradas, além de promessas
e subornos, a pressão policial exercida junto ás testemunhas de defesa,
por ocasião do sumário, a tortura e maus tratos infligidos a Piauí,
bem como a calúnia irrogada a meu genro José Humberto Pontes, tudo isto
contribuiu para que se forjasse o mais escandaloso caso criminal de que há
noticia no Ceará.
Os
sofrimentos por que passei - a prisão, a incomunicabilidade, a humilhação,
o afastamento da minha função pública, o abandono de minhas propriedades e
a ausência forçada do meu lar - são inenarráveis.
Hoje,
impronunciado á falta de provas e de quaisquer indícios pela
brilhante sentença - honrosa e criteriosa - do incorruptível Juiz, Dr.
Colombo Dantas Bacellar, - estou jubiloso e satisfeito, ao mesmo tempo em que
peço a Deus que se apiede daqueles que me causaram tanto mal, tanto fizeram
sofrer aos meus e a esta companheira inseparável de todos os momentos - a
minha querida e corajosa esposa: MIMOSA BARROSO BASTOS.
Resta-me,
pois, agora, render o meu tributo de gratidão aos meus
abnegados advogados - o Prof. Clodoaldo Pinto, honra e gloria do Ceará, os
Drs. Yvan Parayba e Fidelis Silva, e o meu reconhecimento ao Dr. Evandro Leite
Viana, defensor de dois dos acusados.
Quero também deixar expresso aos meus
parentes e aos amigos das horas incertas, o testemunho inequívoco do meu
sincero agradecimento por tudo quanto fizeram para que, após tão negro prólogo,
tivesse o CASO DE ITAPAJÉ tão magistral epilogo. (Fortaleza - Ceará, 17 de
julho de 1959 - Júlio Pinheiro Bastos)".
Júlio Pinheiro é candidato a Prefeito
de Itapajé em 1954. Recebe um forte apóio popular e de partidários. Nesse ano,
Raimundo Vieira Filho e uma coligação dos partidos PSDxPSP, indicaram para sucedê-lo
na prefeitura. O Cel. Júlio Pinheiro Bastos, como veremos a seguir, na
transcrição de um artigo veiculado no Jornal “O ESTADO”, em “Vida dos
Municípios”, do jornalista Francisco Alves, de 24-07-1954, sobre a
candidatura de Júlio Pinheiro Bastos, a prefeito de Itapajé.
"Amanhã, domingo, na
cidade de Itapajé realizar-se-á uma grande concentração política, onde
estarão reunidos os mais destacados vultos da política
alencarina. Pertencente à coligação situacionista, PSDxPSP.
Poder-se-á dizer que em Itapajé será feita a arrancada das forças
governamentais, para o pleito de outubro próximo, arrancada esta, que se
prenuncia vitoriosa, pois é reconhecido soberbamente o valor do
"majoritário", naquela importante cidade interiorana. Tem objetivo
principal esta concentração magna, o lançamento da candidatura à sucessão
municipal pela coligação PSDxPSP, cuja escolha recaiu no nome do Sr.
Júlio Pinheiro Bastos. Esta escolha foi por demais acertada, em se tratando de
um candidato por todos os títulos digno de ser eleito, e isto se deve as suas
qualidades de homem honrado que tem como fito único batalhar denodadamente pelo
bem comum de Itapajé. Portador de virtudes morais que o dignificam, o Sr. Júlio
Pinheiro, há conquistado a simpatia do povo, pelos traços de uma modéstia
impar, que bem o identifica. Amigo dos humildes, como de todos, seu nome surgiu
no seio da própria população como uma imperiosidade da pura democracia. Desta
capital partirá uma luzida comitiva políticos de proeminência que são: Dr.
Stênio Gomes; Governados do Estado, Dr. Raul Barbosa; Sr. Antônio Gentil;
Deputado Menezes Pimentel; Deputado Francisco Ponte;
Deputado Osíris Ponte e Dr. Edson Carvalho Lima. Esta
comitiva homologará solenemente a candidatura do Sr.
Júlio Pinheiro Bastos á prefeitura de Itapajé, bem como dos candidatos
pessedistas á Câmara Municipal daquela terra, que são: Raimundo Vieira Filho,
Casemiro Dutra Melo, José Expedito de Araújo Matos, Esmerino Ferreira Gomes,
Eustáquio de Sales Peixe, Moacir Mesquita Forte, José da Silva Mota, Paulo
Rodrigues da Silveira, Raimundo Vandencock Bastos e Manuel Luiz da Rocha. Para
deputado estadual será votado o nome do Sr. Osíris Pontes, grande
batalhador pelas justas, reivindicações do município. Será aproveitada a
presença da caravana já vitoriosa, para proceder-se o lançamento da pedra
fundamental do Grupo Escolar de Itapajé, bem como do açude público de Irauçuba.
Desta maneira, Itapajé viverá com o lançamento da candidatura do Sr. Júlio
Pinheiro Bastos à Prefeitura. Municipal, um dia que marcará época na historia
da vida política daquela importante urbes cearense".
Júlio Pinheiro Bastos vence Valdir de
Andrade Braga. Julio Pinheiro Bastos foi afastado do cargo (O primeiro e único
caso de afastamento de um governante municipal em Itapajé), pela acusação falsa
e leviana de ser o mentor intelectual do assassinato do ex-prefeito Capitão
Francisco Teixeira Braga, - 1947/50 - fato ocorrido em 1 de dezembro de 1957.
Com a vacância do cargo, o Presidente
da Câmara assumiu o município. José Expedito de Araújo Matos assume
interinamente de 15 a 30 de dezembro de 1957. Manoel Gusmão Rocha assume
interinamente 22 a 24 de março de 1958. José Expedito de Araújo Matos assume
interinamente, em Janeiro, Fevereiro, Março e parte Do mês de Abril de 1958.
(conforme está explicitado na Lei n.º 301 de 2 junho de 1958).
A seguir outras reportagens, agora já
sobre o “Caso de Itapajé”. As datas e os nomes dos jornais, são citados nas
reportagens transcritas.
“EM LIBERDADE O EX-PREFEITO DE ITAPAJÉ – QUEM MATOU O CAPITÃO BRAGA?” –(CORREIO
DO CEARÁ – FORTALEZA – 29 DE JULHO DE 1959 – QUARTA-FEIRA – PRIMEIRA PÁGINA)
“Júlio Pinheiro Bastos ganhou a
liberdade com a sentença do Dr. Colombo Bacelar, juiz da Comarca de Itapajé.
Ei-lo, (Nota: A matéria se refere à foto de Júlio Pinheiro e seus advogados)
quando deixava o Quartel do Corpo de Bombeiros, ladeado pelos seus advogados
Drs. Ivan Paraíba, Clodoaldo Pinto e Fidelis Silva. Ia ao encontro da família,
que o esperava há um ano e seis meses.
Ainda hoje o assassínio do capitão
Francisco Braga, em Itapajé, é caso dos mais discutidos, dando margens a
opiniões as mais diversas no seio da opinião pública. Ocorrido em 1 de dezembro
de 1957, o bárbaro crime teve a investigar-lhe as causas e a procurar-lhe os
autores, oficiais da Polícia Militar, companheiros de farda do inditoso
capitão, reunidos em torno do inquérito momentoso.
O CORREIO DO CEARÁ, através de seu repórter
Juarez Furtado Temóteo, participou dos principais momentos do Inquérito
policial Militar, deles desligando-se para a apreciação de possibilidades
outras com relação à autoria intelectual do assassínio, quase de início logo
atribuída à pessoa do então Prefeito de Itapajé, Sr. Júlio Pinheiro Bastos.
Penetrando no emaranhado do caso,
o repórter trouxe à luz, pistas desprezadas pelo IPM, (nota:
Inquérito Policial Militar) - que baseado nas declarações de "Carga
Torta", que se apontava a si próprio, antes mesmo de que tivessem começo
as investigações do lado que envolveria o Prefeito, agarrava-se de unhas e
dentes à possibilidade que mais tarde oficializou, através de confissões do
próprio "Carga Torta" e de João "Piauí".
Juarez Temóteo chegou a depor perante o
Juízo da Comarca de Itapajé no rumoroso processo que ali teve curso. Sobre seu
depoimento, disse o Juiz Colombo Dantas Bacelar, na recente sentença com a
qual impronunciou o Sr. Júlio Pinheiro Bastos e os acusados
"Carga Torta" e João "Piauí", tratando da confissão
feita por este último e tida como principal peça do Inquérito Policial Militar:
“Um oficial lhe disse que se não
descobrisse seria morto, e logo em seguida, um tenente, escrivão do IPM,
“disparou sua arma, sendo que a bala detonada passou a pequena altura da cabeça
do acusado”. Neste momento Piauí ouviu um tiro à distância, sendo então
informado de que Carga Torta já havia sido morto naquele momento, e “se ele não
revelasse a autoria do delito, também seria também morto”.
Tal declaração vem confirmada
inteiramente pelo conhecido jornalista Juarez Temoteo, homem de imprensa,
valoroso e independente, cujas atitudes altaneiras devem servir de exemplo a
todos os que lidam em jornais, e pessoa que merece fé, tanto que o seu
depoimento não sofreu o menor reparo ou restrições, quer por parte da acusação,
quer por parte da defesa (fls. 447 a 450).
A versão de Piauí vem confirmada pelo
jornalista, com uma pequena variação, pois somente foi omitido o tiro que
passou próximo daquele acusado. No mais, concorda o depoimento com o
interrogatório”.
O Jornal O POVO, na edição de 23
de dezembro de 1970, assim noticiou, em primeira página, a seguinte matéria:
“DESVENDADA EM MACAPÁ A MORTE DO CAPITÃO
BRAGA”.
(Jornal O POVO – 23 de dezembro de 1970).
“Após 13
anos, foi descoberto o verdadeiro assassino do Capitão Francisco Teixeira
Braga, ex-prefeito de Itapajé, abatido com uma facada na garganta, no
centro comercial daquela cidade, na
noite de 1.º de dezembro de 1957. O criminoso, Manoel Firmino Barbosa, vulgo
Manoel Simão, está recolhido à Cadeia Pública de Belém, e amanhã chegará
escoltado a Fortaleza. Foi capturado em Macapá, após uma denúncia de uma
senhora cearense ali residente.
Nas diligências efetuadas na época, que repercutiram
intensamente, foram presos e até processados, o Sr. Júlio Pinheiro Bastos, como
o mandante do crime, e os seus empregados Francisco Pereira Lima, vulgo Carga
Torta e João Tomás de Oliveira, o Piauí.
(A PRISÃO) A polícia
paraense, através da Delegacia de homicídios, após várias diligencias,
conseguiu localizar e prender o criminoso, Manoel Firmino Barbosa, conhecido
por Manoel Simão, quando este se
encontrava em Macapá. Após o crime, escondeu-se nas proximidades de Itapajé,
fugindo depois com sua família, para o Pará, onde fixou residência, na
localidade de Capitão Poço, mas foi descoberto 13 anos depois.
(O MANDANTE) Na polícia, ao
ser ouvido, o criminoso disse que matou o ex-prefeito, contratado pelo
comerciante Jurandir Araújo (Chaves), pela importância de Cr$ 40,00.
Na época do crime, quem
pagou sem dever foi o prefeito de
Itapajé, Sr, Júlio Pinheiro Bastos, que foi inclusive preso. Foi vítima de uma
farsa dos seus empregados Carga Torta e Piauí, que confessaram (sob tortura) a
autoria do crime, condenando o prefeito como mandante”.
TREZE ANOS PARA DESCOBRIR QUEM MATOU O CAPITÃO – (A PROVÍNCIA DO
PARÁ – 24 DE DEZEMBRO DE 1970 – PRIMEIRA PÁGINA).
Há treze anos passados foi morto a
facadas na cidade de Itapajé, no Ceará, o capitão da Polícia Militar, Francisco
Teixeira Braga. Na ocasião foi preso o ex-prefeito local Júlio Pinheiro Bastos,
como principal acusado. Este foi condenado a três anos de reclusão, muito
embora protestasse inocência.
Ontem as autoridades da Delegacia de
Homicídios, desta capital, prenderam Manuel Firmino Batista, que depois de
algumas averiguações confessou ser o autor da morte do capitão da PME. O
criminoso será encaminhado para as autoridades de Fortaleza. Recebeu na época,
24 contos para o “crime de encomenda”, feita por outro, que não o ex-prefeito.
CACHAÇA “DERRUBOU” O “MANOEL BARRACA” – EX-PREFEITO CONDENADO AMARGOU
TREZE ANOS E PROVOU QUE NÃO MATOU. - (A PROVÍNCIA DO PARÁ – 24 DE
DEZEMBRO DE 1970 – PÁGINA 8).
Depois de 13 anos fugindo das
autoridades policiais de Fortaleza, por crime de homicídio foi preso ontem por
policiais da Delegacia de Homicídios desta capital, o cearense Manoel Firmino
Batista, casado, 42 anos, vulgo Manoel Barraca. No dia 29 de novembro de 1957,
Manoel Barraca foi “peitado” para matar um capitão da Polícia Militar daquele
estado. Pelo crime encomendado, Manoel Barraca recebeu a quantia de 24
cruzeiros, fugindo desde então para alguns quilômetros distante da cidade de
Itapajé de onde viajou para esta capital. O acusado, além de seu nome,
usava outros 3, para despistar a polícia.
A ENCOMENDA – Em julho de 1957, Manoel
Firmino foi procurado por Jurandir Araújo para matar o capitão da PME da cidade
de Itapajé, no Ceará, Francisco Teixeira Braga. Uma irmã de Jurandir – Ana –
esposa do capitão, segundo ele, vinha sendo maltratada pelo esposo militar. Em
determinada ocasião, Jurandir procurou conversar com seu cunhado acerca do que
se passava com sua irmã Ana, e foi insultado. Desde então Jurandir jurou que o
caso não iria ficar assim.
A princípio Manoel Barraca não concordou
com o negócio. Mas depois Jurandir ofereceu-lhe a importância de 40 cruzeiros,
para liquidar o capitão. Já corria o mês de novembro, quando Manoel aceitou a
proposta.
O CRIME – No dia 29 daquele mês, Manoel
Barraca, armado com uma faca peixeira – para iniciar o negócio, Barraca
recebera a quantia de 12 cruzeiros, como adiantamento – aguardou a passagem do
capitão Braga, na praça Quintino Cunha, em Itapajé, local por onde sempre
transitava o capitão com destino a sua residência. (Cabem aqui duas ressalvas:
1.ª - A data correta do crime foi: 1 de dezembro de 1957; 2.ª - A praça é Duque
de Caxias). O acusado escondeu-se por trás da estátua, ao avistar sua
vítima. O capitão caminhava em passos firmes e ao passar pelo lado da
estátua, recebeu inesperadamente uma facada no pescoço, atravessando-o de
lado a lado. Manoel Barraca desaparecia dali enquanto o capitão morria nos
braços de populares. Dali Manoel Barraca dirigiu-se até a residência de
Jurandir, onde recebeu mais 12 cruzeiros. Insistiu junto ao autor intelectual
do crime, para o recebimento do restante, ou seja 16 cruzeiros, mas Jurandir
disse que aquilo erro o suficiente.
FUGA E PRISÕES – Apavorado Manoel
Firmino fugiu para uma distante de Itapajé, enquanto as autoridades
policiais locais vasculhavam a cidade em busca do criminoso. Diversas pessoas
foram presas, entre as quais o ex-prefeito Júlio Pinheiro Bastos, apontado como
acusado. O ex-prefeito chegou a ser condenado a 3 anos de reclusão.
Em 1958 Manoel Barraca viajou em um
“Regatão” para Belém. Aqui chegando demorou-se alguns dias vendendo rapadura. A
seguir, a fim de arranjar outros negócios, seguiu para o município de
Capitão Poço. Naquele município, embriagado, constantemente brigava com sua
amásia e durante as discussões dizia que já havia matado vários homens,
inclusive um capitão da Polícia.
FAMÍLIA AVISADA – José Andrade Pinto,
cearense, solteiro, 50 anos, a seis meses chegara a esta cidade, viajando daqui
para Capitão Poço, a fim de efetuar vendas de chinelos. Lá ouviu um dessas
discussões de Manoel Barraca, com a amante e posteriormente suas confissões. Ao
regressar a Fortaleza, no mês passado, cientificou a família do Sr. Júlio
Bastos, que havia sido condenado, de que se passara naquele município paraense.
De imediato viajou para esta capital, o Sr. Júlio, em companhia do Dr. João
Pinheiro. Era uma oportunidade para o condenado provar sua inocência.
Na Delegacia de Homicídios, Júlio
Bastos narrou detalhadamente o que ocorrera há 13 anos passados e o fato com
relação a Manoel Barraca. O ex-prefeito trouxe também em sua companhia, o
vendedor de chinelos, José Andrade Pinto, que ouvira a confissão de Barraca.
PRESO EM MACAPÁ – Diversas diligências
à Delegacia de Homicídios foram efetuadas a Capitão Poço. O subdelegado
Lourival Justino e o agente Elzamam, arrolaram naquele município, pessoas que
tinham ouvido a confissão de Barraca. Quando ali se encontravam, soube que o
homem viajara para esta capital, para residir por alguns dias, em companhia de
seu compadre – Albino Trindade – à avenida José Bonifácio, 3035. Nesse endereço
os policiais tiveram conhecimento de que Barraca, já sabedor que a polícia
estava em seu encalço, fugiu para Macapá, a bordo do barco “Vânia”.
Quando “Vânia” atracava no Porto de
Macapá, já lá se encontrava o subdelegado e o agente. Manoel Barraca foi
algemado e trazido para esta capital. A inocência de Júlio Pinheiro estava
comprovada.
EU MATEI – Na Delegacia de Homicídios,
Manoel Barraca confessou o crime dizendo que recebera a quantia de 23
cruzeiros para liquidar o capitão da PME. Ele não mostrava qualquer
arrependimento e somente estava interessado em saber como os policiais os
descobriram. Um dos policiais disse: “Foi a tua cachaça que te denunciou”.
Além do seu nome verdadeiro, Manoel
Barraca ainda usava os seguintes nomes: Manoel Simão, Manoel Francisco Batista
e Manoel Barbosa Lopes. Ainda esta semana o criminoso deverá ser escoltado pelo
subdelegado Justino e o agente Elzamam, para a cidade de Fortaleza, a fim de
prestar contas com a Justiça. Foi instaurado inquérito Policial naquele DP,
para apurar os fatos.
Acessem as postagens
originais, para maiores detalhes a Postagem do dia, 13 DE JUNHO DE 2012 – Quarta
feira, do Blog da História de Itapajé:
Postagem 1: http://www.itapagece.blogspot.com.br/2012/06/julio-pinheiro-bastos-o-protagonista-da.html
Postagem 2: http://www.itapagece.blogspot.com.br/2012/06/julio-pinheiro-bastos-o-protagonista-da_13.html
(Jornal O POVO - de 24 de dezembro de 1970)
Diligencias e investigações desconcertantes, confissões mentirosas extraídas à custa de violências policiais, levaram três pessoas à prisão , por um crime que não praticaram. Depois de 13 anos da morte do capitão Francisco Teixeira Braga, surgiu o verdadeiro criminoso: Manoel Firmino Barbosa, também conhecido por Manoel Simão, preso na cidade de Macapá., chegará escoltado a Fortaleza, à tarde de hoje, procedente Belém, sendo em Seguida levado para Itapajé, onde cometeu o bárbaro crime. Naquela cidade, está feliz o Sr. Júlio Pinheiro Bastos, prefeito dali, na época do acontecido, e a quem foi assacada a pecha de mandante do assassinato, através de uma confissão mentirosa dos seu empregados “Carga Torta” e “Piauí”. Os três terminaram na Cadeia. Sempre clamando por inocência. Júlio Pinheiro tinha fé que um dia seria conhecido o verdadeiro autor do crime, que abalou Itapajé. Exatamente isso aconteceu, após 13 anos, e na quadra do Natal. A Justiça agora vai julgar Manoel Simão, que matou o capitão Braga, empleitado através do comerciante Jurandir Araújo, pela importância de Cr$ 40,00.
CHEGA HOJE O MATADOR DO CAPITÃO BRAGA – Júlio Pinheiro, Certo da Sua Inocência: “Um Dia, o Criminoso Será Preso” – TREZE ANOS DEPOIS, A JUSTIÇA COM A PRISÃO DO. (JORNAL O POVO – 24 DE DEZEMBRO DE 1970 – PRIMEIRO CADERNO, PÁGINA 8)
Procedente de Belém, chegará escoltado, à tarde de hoje, o indivíduo Manoel Firmino Barbosa, também conhecido por Manuel Simão, assassino confesso do capitão Francisco Teixeira Braga, ex-prefeito de Itapajé, morto com uma facada na garganta, na noite do dia 1 de dezembro de 1957.
O POVO, em sua edição de ontem, noticiou a descoberta do criminoso em Belém, e sua prisão na cidade de Macapá, para onde havia fugido, dois dias após ser reconhecido como autor da morte do capitão Braga, crime que levou três pessoas às barras da Justiça, condenadas todas elas a prisão, a custa de investigações desconcertantes, e revelações extraídas de violências policiais.
Desde ontem, em Itapajé o Sr. Júlio Pinheiro Bastos, que na época do acontecido era prefeito daquela cidade, voltou a ser um homem feliz, pois, como é sabido, ele foi preso e condenado a três anos de reclusão, acusado de mandante, em vista de uma confissão mentirosa dos seus empregados, Francisco Pereira Lima, vulgo “Carga Torta”, e João Tomás de Oliveira, o “Piauí”, que confessaram haverem praticado crime a mando do patrão.
O VERDADEIRO MANDANTE – Todavia, agora com a prisão de Manoel Simão, ficou esclarecido que o verdadeiro mandante do crime, em que perdeu a vida o capitão Francisco Teixeira Braga, também ex prefeito de Itapajé, foi o comerciante Jurandir Araújo, sobre quem jamais recaíra, até agora, naquele município, a mais leve suspeita.
O assassino do capitão Braga foi capturado na cidade de Macapá pela polícia paraense. As diligencia tiveram início na localidade de Capitão Poço, onde Manoel Simão fixara residência desde de 1957.
No depoimento, o assassino descreveu todos os lances do crime, após o qual fugiu com a família, composta da esposa e cinco filhos, e conseguiu estabelecer-se como agricultor no município paraense de Capitão Poço, até a data em que foi descoberto. Funcionaram na prisão do assassino, efetuada em Macapá, o delegado Lourival Justino e o guarda bancário Elzemam Moraes.
O PREÇO DO CRIME – Friamente, Manoel Firmino Barbosa, que também usa os nomes de Manoel Simão, Manoel Francisco Batista, Manoel Barraca, cearense de Paraipaba, disse a Polícia de Belém, que matou o capitão Braga, contratado pelo comerciante Jurandir Araújo, por Cr$ 40,00. Como sinal, recebeu Cr$ 12,00. O restante seria pago depois de consumado o crime.
Manoel Simão confessou que esperou sua vítima, na noite escura, em tocaia:“Agarrei-o por detrás e sangrei o homem, metendo a faca na veia do pescoço”.
SEM TESTEMUNHAS- A ausência de testemunhas facilitou a fuga do assassino. Consumado o crime, Manoel Simão dirigiu-se ao mandante e recebeu mais Cr$ 12,00. O resto ficou de receber quando as coisas esfriassem...
O fato virou mistério. Não apareciam testemunhas. Foi acusado mandante do crime o então prefeito de Itapajé, Sr. Júlio Pinheiro Bastos, inimigo ferrenho da vítima.
A Polícia, no embalo das diligências prendeu, em Irauçuba, o indivíduo Francisco Pereira Lima, vulgo “Carga Torta”, que terminou confessando o crime. Como co-autor, apontou o caboclo João Tomás de Oliveira, mais conhecido por “Piauí”. Acareados na Polícia, os dois fizeram pesadas cargas contra o prefeito Júlio Pinheiro Bastos, acusando-o de mandante, embora este clamasse por inocência. “Carga Torta” caiu em seguidas contradições, ora acusando, ora inocentando o prefeito.
PIAUÍ SORRIU NA RECONSTITUIÇÃO – no dia 12 de dezembro (de 1957), à noite, “Carga Torta e “Piauí” foram levados pelo capitão Edilberto Bedê, para Itapajé, a fim de reconstituírem o crime.
O prefeito ficou recolhido no quartel da Polícia, sempre clamando por justiça:“Deus me livre, eu juro por tudo que não mandei matar o capitão. É mentira daqueles cabras”.
Carga Torta mostrando lucidez mostrou a Polícia a maneira como executara o capitão, com a ajuda do caboclo Piauí. Indicou aos policiais a casa do morto, o local onde o capitão tombou, após ser sangrado, e apontou ainda a praça onde o prefeito lhe entregara a peixeira com a qual sangrou a vítima.
PIAUÍ CONFESSA O CRIME – tudo estava ruim para o lado do prefeito Júlio Pinheiro Bastos. Na volta da reconstituição, Piauí confessou o crime ao capitão Bedê e apontou também o prefeito como mandante, dizendo dele Ter recebido a importância de Cr$ 10,00.
Como detalhe confessou que após o crime, dirigiu-se para a Fazenda Santa Cruz, de propriedade do prefeito Júlio Pinheiro, indo até a um riacho, onde lavou a camisa suja de sangue.
Uma vez que resolveu soltar a língua, Piauí passou a fazer revelações graves, complicando a situação do prefeito: “Sou pistoleiro dele e a próxima vítima será o Frutuoso, de sobral”. Confessou na oportunidade ser autor de mais três homicídios.
PREFEITO: “SOU INOCENTE” – “O caboclo Piauí viu a onça e não sabe onde ela se escondeu”, foram palavras do prefeito em depoimento que prestou a Polícia, na Casa de Saúde São Raimundo, nesta capital, onde estava internado.
“Os cabras querem acabar comigo. Perversos mentirosos. Tenho fé em Deus que ainda vai aparecer o verdadeiro assassino. Isso será descoberto. Se Nossa Senhora me der vida, irei atrás do autor. Zelo pelo meu nome. Pode quem quiser perguntar ao vigário, ao Dr. Sombra e quem me conhece em Itapajé quem sou eu”.
PRISÃO PREVENTIVA PEDIDA - No dia 14 de dezembro (de 1957), o capitão José Edilberto Bedê e Silva, solicitou a prisão preventiva do prefeito Júlio Pinheiro Bastos, como mandante, de Francisco Pereira Lima “Carga Torta” e de João Tomaz de Oliveira, o “Piauí”, como autor e co-autor do crime contra o capitão Francisco Teixeira Braga.
PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA - No dia 17 de dezembro, o Dr. Luís Teixeira , Juiz de Direito de Itapajé, decretava a prisão preventiva de Júlio Pinheiro Bastos, de “Piauí” e de “Carga Torta”.
No mesmo dia, por volta das 18 horas, o capitão Edilberto Bedê, presidente do inquérito policial, foi a Casa de Saúde São Raimundo, onde se encontrava internado o prefeito e comunicou-lhe o fato. Penetrou na enfermaria e entregou-lhe o despacho telegráfico que notificava a ordem de prisão.
INOCENTES NA CADEIA – No dia 23 de dezembro (de 1957), Carga Torta e Piauí, foram levados para a Casa de Detenção. Dias depois o prefeito recebeu alta médica, sendo transferido para o Quartel do Corpo de Bombeiros.
Júlio Pinheiro nunca perdeu a calma, e dizia para todos que um dia limparia seu nome. Tudo que estava se passando contra sua pessoa era puramente calúnia. Pelo crime, o prefeito foi condenado a 3 anos de prisão, cumpridos em Fortaleza. Carga Torta e Piauí também foram condenados sete anos de prisão para cada.
TREZE ANOS DEPOIS: A VERDADE – treze anos depois, quando ninguém pensava numa reviravolta, eis que foi preso em Macapá o verdadeiro assassino, Manoel Firmino Barbosa, também conhecido por Manoel Simão. Ele chegará escoltado a Fortaleza, por todo dia de amanhã e desta capital será levado para Itapajé a fim de ser ouvido em depoimento.
Quem levou a queixa foi José Andrade Flor, um vendedor de chinelos, residente em Itapajé, quando ele esteve recentemente negociando seus artigos de couro naquela capital. “Aqui pertinho mora um homem, autor de três crimes no Ceará, na cidade de Itapajé, ele matou um capitão da Polícia, e um homem que tinha muito valor foi preso no lugar onde residia”.
Tomando conhecimento desta história, o Sr. Júlio Pinheiro Bastos, que nunca perdera as esperanças de provar sua inocência, mandou seu genro, José Humberto Pontes a Belém, para conferir a notícia. Na localidade de Capitão Poço, soube José Humberto, que Manoel Simão havia fugido para Macapá, ao pressentir que estava sendo procurado. A Polícia tomou conhecimento de que ele havia fugido a bordo no barco “Vânia”. Imediatamente, o delegado Lourival Justino, com outro policial, tomou um avião para Macapá e, quando o “Vânia” aportava ali, já os dois policiais estavam à espera do criminoso, prendendo-o.
Transportado para Belém, ele confessou o crime que há treze anos vinha sendo atribuído a Júlio Pinheiro Bastos.
Não escondendo a verdade, Manoel Simão disse que matou o capitão Braga, contratado por Cr$ 40,00, pelo comerciante Jurandir Araújo, residente no município de Itapajé.
Na próxima postagem continuaremos com CASO ITAPAJÉ. Até lá!
Ribamar Ramos
11 de junho de 2012
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