sexta-feira, 23 de janeiro de 2015




O FRADE DE PEDRA


(O MONGE DE GRANITO)

Original de Antônio Martins

"Era da tarde ao fim, que o vi de perto,
Já das brumas da noite o vulto incerto ...
Um gigante de pé;
Depois, à luz do dia contemplei-o,
Fui mais perto, mais perto - o mesmo enleio ...
"Infinito galé!"

Como ele é majestoso! Viu passarem
Com os séculos gerações a se abismarem
Na tumba das idades; - sentinela dos mundos no seu posto,
Tem das procelas rugas,  pelo rosto sulcos das tempestades!

Fez-se monge . . . Preferiu à cela escura
O ambiente sagrado da natura,
Entre os muros azuis da cordilheira;
E aí, n'um paraíso aos céus aberto,
Constituiu-se - um marco no deserto
- Ancora da fé na crença derradeira.

Quem sabe a sua lenda?
Altos mistérios . . .
Dorme com as gerações nos cemitérios
A história deste herói! . . .
Sondar quem pode a alma gigantesca
Dessa estátua sem luz - múmia dantesca
Que o tempo não destrói.

O povo aponta-o respeitoso e altivo,
Como a estátua fatal d´um redivivo ...
Do dilúvio . . . talvez?
Da arca de Noé caíra a nado,
Té que um dia - aportou extenuado
Dos serros no convés!

Foragido dos mares, da esperança.
Tanto lutou que teve na bonança
O seu último alento;
Hirtos os membros, cansados, sem conforto,
Ascendeu ao Calvário antes do Horto - no hérculeo passamento
Tem encelados os membros de granito,
Rolou lá das alméias do infinito dorso dos destroços.




PENSE NISSO... REFLITA!

INTERTEXTO (Bertold Brecht)


Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.


Por hoje é só!
Boa noite / Bom dia!
Fortaleza  23 jan 2015

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