domingo, 27 de maio de 2012


O PATRONATO SÃO JOSÉ


“Há três anos apenas, por entre os vivas alegres e espontâneos dos filhos de Itapajé, chegavam nesta cidade as Filhas do Coração Imaculado de Maria. Eram religiosas que atendiam a solicitação amiga e interessada do Vigário, Reverendo Pe. Manuel Lima e Silva, para a fundação de um patronato. A infância e a juventude femininas sentiam aclarar-se-lhes o caminho. Fundado estava o Patronato São José; apenas uma escola primária para meninas. Nada demorou para surgirem os primeiros problemas Os sacrifícios de certa não faltaram; eram  os sinais de que a obra era de Deus.
Foi-se confirmando a necessidade da existência da nova casa. Uma luz forte atraía as buliçosas mariposas. As Filhas do Coração Imaculado de Maria deixavam espargir a doutrina pedagógica que conduz a juventude pelo caminho da doçura. E foram ganhando terreno do povo. Era preciso avançar. O Rev.mo. Vigário, Pe. Lima, sentinela alerta do seu rebanho, esquecia-se de si mesmo para “ver tudo bem” no Patronato São José.
Passou-se o primeiro. Ah! É preciso fundar o Ginásio. Bem se pode chamar de progresso a jato, todas as dificuldades foram vencidas, e o Ginásio foi fundado. Na comemoração do primeiro centenário de Itapajé, (1859-1959) - o Ginásio São José estava no segundo ano de funcionamento. Quem o visita, fica encantado de ver bom gosto que nele reina: tudo é simples, mas tudo conduz a uma formação que se molda  no querer educar.
Uma escola gratuita sob a invocação da patrona excelsa: O Coração Imaculado de Maria. Acolhe atualmente (1959), cerca de oitenta crianças e jovens que vencem quilômetros de distância, para irem buscar a água na fonte do saber e calor na fornalha da caridade.
As alunas contribuintes atingem a cento e vinte. São as colunas do seu colégio. O Ginásio termina o seu segundo ano. Já se vê uma juventude Cordimariana formando, devagarzinho, os alicerces de uma cultura que se firma nos fundamentos da fé Cristã.
O devotamento das irmãs pela gota cotidiana de suor do seu rosto, vai-se mergulhando no coração de Itapajé, plasmando-se desta forma, um só coração. É assim que, nas comemorações do primeiro centenário desta terra amiga, sentem-se felizes as “Filhas do Coração Imaculado de Maria” por verem as queridas alunas, filhas de Itapajé, hasteando a bandeira da cultura, instruindo e educando, sob os postulados cristãos”.
O texto acima, (do Livro do Centenário de Itapajé, de Aristóteles Carneiro), apesar de muito rico, fica-nos devendo maiores esclarecimentos com relação a nomes e datas. Por isso, mais uma vez, recorri à pesquisa e a minha amiga Idelzuite Aragão Muniz e Silva, esposa do inesquecível Mário Moreira da Silva, o maior sanitarista que Itapajé, para me fornecer algumas informações complementares sobre o Patronato São José. As notas entre parênteses do texto foram inseridas a fim de maior compreensibilidade.  
Na década de quarenta, o então vigário de São Francisco de Uruburetama, hoje Itapajé, (o atual topônimo vem desde 30 de dezembro de 1943, pela Lei n. º 1.114). Padre Paulo Ferreira de Almeida – 10.º vigário de Itapajé, - nascido em 30/06/1913 e ordenado em 27/11/1939), convidou algumas Religiosas - (Filhas de Maria ou Missionárias Oblatas) da Paróquia, para alfabetizarem as crianças e jovens, dando-lhes também uma visão religiosa. A missão também atingia as mães dessas crianças, pois eram-lhes ensinados trabalhos artesanais, para que no futuro viessem a ter uma fonte de renda extra.
A tradicional família Fernandes, representada por um de seus principais membros, Miguel Fernandes Sobrinho, 6.º prefeito de Itapajé, homem de grande destaque sócio-cultural, doou para esse fim um imóvel, um casarão desocupado, testemunho-mudo de uma grande história de amor. Ali, Miguel e Hozana Montenegro, vivenciarem uma união muito feliz, porém, muito efêmera; Hozana, sua amada, faleceu precocemente, trazendo-lhe grande tristeza e amargura. Esse imóvel era localizado a Travessa Teixeira Bastos, hoje de propriedade do Sr. Pedro Fernandes - (próximo a casa onde nasceu Quintino Cunha, atualmente – 2012 de propriedade do Dr. Eldo Rios Louzada, Cirurgião Dentista. Em postagem futuras abordarei “essa linda história de amor”.
Destacaram-se fortemente as religiosas: Alzira Aragão Muniz (Farrapo), irmã de D. Idel; Iraci Tabosa Bastos; Mariinha Silva; Núbia Pinto Barreto e Otília Montenegro Fernandes. Elas viviam em unidade na pequena comunidade e trabalhavam com amor pela comunidade e pela paróquia. Para manterem-se, com um mínimo de conforto, Pe. Paulo conseguiu sensibilizar a comunidade local e algumas pessoas de tradicionais famílias, passaram a patrocinar o trabalho das irmãs. Contavam também com uma pequena ajuda da Prefeitura Municipal, tendo à época, como prefeito, o Sr Manuel Luís da Rocha. Contavam também com a venda de artesanatos, confeccionados por elas mesmas. Desse modo, viviam essas abnegadas religiosas, prestando serviços à comunidade, Paróquia e a Deus.
Algum tempo depois a família Peixe, por intermédio da Sra. Lúcia, vendo a importância do trabalho daquelas religiosas, veio a ofertar um terreno, de propriedade da família, às margens da Br 222 - (próxima à antiga Coopita, depois Usina Gomes.), para a construção da sede própria do futuro Patronato. Nesse local foi lançada a pedra fundamental. Um pequeno símbolo de devoção e respeito à mãe de Jesus, Maria de Nazaré. Uma Medalha Milagrosa transformar-se-ia em uma entidade que prestaria relevantes serviços a nossa comunidade. O ato singular foi testemunhado pelo o mentor e defensor arraigado do Patronato, Pe. Paulo Ferreira de Almeida.
No entanto, para surpresa da comunidade, Dom Antônio de Almeida Lustosa, Arcebispo de Fortaleza - nessa época, São Francisco de Uruburetama era Paróquia da Diocese de Fortaleza, veio a transferir Pe. Paulo, para Fortaleza. Antes de viajar Padre Paulo aconselha as Missionárias Externas, como eram conhecidas as Irmãs, a ingressarem em uma Congregação Religiosa.
Para substituir Pe. Paulo foi nomeado Pe. Francisco Evaristo de Melo, nascido em 23/09/1918 e ordenado em 29/12/1942 - 11. º Vigário de Itapajé. A posse como vigário (Pároco) de Itapajé deu-se em 20 de março de 1950.
Padre Francisco Evaristo, logo que tomou posse no cargo e conhecer todas as atividades da paróquia, não gostou do local do terreno que fora doado pela família Peixe, devido, principalmente ao fato de não haver água em abundância nas proximidades do terreno, condição essencial para a locação de um colégio. Recorre então a Dona Venusta Bastos e sua irmã Filó Bastos, na esperança de receber, pela segunda vez, uma doação de um novo terreno que atendesse essas exigências. A solicitação foi prontamente atendida. As senhoras ofertaram o novo terreno, próximo de suas residências, no Sítio Niterói, à época considerado como inserido no bairro Ferros. Foi mais um grande passo para a construção do Patronato São José.
O terreno fora doado, no entanto, faltava o segundo elemento mais importante para a construção da escola, a verba para aquisição de materiais para construí-lo. Surge então uma idéia: Alzira Aragão, irmã de Dona Idelzuite Aragão Muniz escreveu uma carta ao Deputado Federal Dr. Paulo Sarasati, narrando os anseios da comunidade e, ao mesmo tempo, solicitando verbas para a concretização do mesmo. “Alea jacta est”. A sorte fora lançada, não dava mais para retroceder.
O destino de Alzira Farrapo já estava traçado, seguindo o conselho de Pe. Paulo engajou-se na Congregação de Santa Terezinha, em Aracaju (SE). Otília Fernandes optou pela Congregação das Filhas do Imaculado Coração de Jesus, em Fortaleza; Núbia Barreto, optou pela Congregação do Divino Mestre, em Salvador. As demais religiosas do grupo inicial renunciaram.
Alzira Aragão Muniz, já há bastante tempo em Aracaju, certo dia, para sua surpresa, recebe a visita do Pe. Francisco Evaristo, que veio comunicar que a verba solicitada ao Deputado Paulo Sarasati fora liberada e se encontrava já depositada em seu nome, no Banco do Brasil, em Fortaleza. Para sacar esse dinheiro era preciso uma procuração assinada por Irmã Alzira.
Sacado os recursos enviados pelo deputado, constatou-se a insuficiência dos mesmos para a o início-término do tão sonhado Patronato. Padre Francisco Evaristo, líder nato, convoca toda a comunidade a colaborar com a conclusão do projeto. O povo prontamente atendeu ao pedido e algum tempo depois o patronato, de um sonho transforma-se em realidade.
Para administrarem as obras de construção, segundo informações de Idel foram contratados os senhores Jesuíno Pinto de Mesquita e o Sr. Neno – casado com Ritinha Tabosa, irmã de Maria Júlia, casada com o Sr. Bita.
Até hoje, maio de 2012, alguns de nossos contemporâneos lembram ter carregado tijolos nas costas, para à construção do Patronato.
O Patronato São José deve também muito ao Padre Manuel Lima e Silva, nosso 12.º vigário, pois como seu diretor e recebendo a ajuda das Irmãs Cordimarianas, que muito contribuíram para que o sonho de um colégio católico se tornasse realidade em Itapajé, irmanaram-se nesse objetivo.
Pela lei municipal n.º 116 de 8 de novembro de 1952, transforma o Patronato em entidade de Utilidade Pública, condição muito favorável, pois o habilitava ao recebimento de ajudas por parte do poder público. Essa lei é transcrita, na íntegra, abaixo: “A Câmara Municipal de Itapajé decretou e eu sanciono e promulgo a seguinte Lei - Art. 1.º - Fica considerado de utilidade pública o Patronato São José, fundado nesta cidade em fevereiro de 1946. Art. 2.º - A presente Lei entrará em vigor na data de sua publicação ou fixação, revogadas as disposições em contrário. Paço da Prefeitura Municipal de Itapajé, 8 de novembro de 1952 - (Assina: Raimundo Vieira Filho – Prefeito Municipal).
A Lei estadual  n. º 10.005 da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, em projeto enviado pela Deputada Maria Zélia Mota, primeira mulher a exercer um mandato legislativo neste estado. A lei foi publicada em 13/05/1976, com ela viria também  confirmar e ampliar à condição de Utilidade Pública,  o Patronato São José.
Como destaque ao trabalho dessas tão abnegadas operárias de Cristo, além de muitos outros, podemos destacar à criação do Hino do Patronato São José, cuja letra é de autoria da irmã Cecília e música, Ir. Jandira, uma das maiores personalidades culturais e beneméritas que Itapajé já recebeu. Recentemente Irmã Jandira volta a residir novamente em Itapajé. Além de muitas outras aptidões, irmã Jandira foi à precursora da criação do primeiro Grupo de Jovens de Itapajé, o saudoso e “operante” MOJOVITA – Movimento Jovem de Itapajé. Apesar de o nome muito parecer com movimento político, o mesmo era totalmente engajado aos movimentos da igreja. Aí sim, nosso real objetivo, afinal um grande número de jovens idealistas e esperançosos,  participaram do mesmo, entre eles: Ribamar Ramos e Socorro Dutra, Duda Oliveira, Úrsula Dutra, Dimas Cruz, Mano e Fernando Araújo Bastos, Diassis Mesquita e sua irmã Rita, Adalberto Lavor; Rafael “Brasil”, Danilo, Gargarim, Francisco “Patão” Bernardes, esses últimos componentes da Bandinha Os Cristais e tantos outros.
Voltando à irmã Jandira, como visto, era uma líder querida. O Patronato São José, muito deve a essa religiosa. O hino do colégio foi “musicado” pela mesma, já letra é de irmã Cecília, veja a seguir.
1. - Nossa meta é sermos construtores de um mundo fraterno, cristão, revisando antigos valores, criticando, fazendo opção.  Refrão: Juventude, fiel mensageira da justiça, da paz e do amor. Seguiremos à causa primeira, que é Jesus, nosso mestre-salvador. 2.- Na igreja, na sociedade, nós seremos presenças atuantes, procurando em tudo à verdade. No trabalho, na prece operante. 3.- Cinco lustros de intenso labor, a serviço de Itapajé, são vividos com ardente fervor, sob às bênçãos de Maria e de José. 4. -  Como o “Frade de Pedra”, lendário, resistindo a qualquer tempestade, nosso peito será um relicário, dos valores de nossa cidade. 5. – Saberemos honrar nosso nome, nossa pátria faremos crescer. Que o futuro, como exemplo nos tome, no afã de lutar e vencer!
As mensagens acima, misto de determinação e esperança, bem descrevem a força e a esperança dos que tanto se esforçaram para que o Patronato fosse uma realidade. Isso mostra a visão determinada de verdadeira democrata que tem a querida irmã Jandira, que se transfere para Caucaia, em 2001, voltando a residir, pela segunda em Itapajé desde o início deste ano de 2012.
Em Itapajé, a Comunidade das Irmãs Cordimarianas é formada por outras grandes amigas, entre elas: Irmã Stela Saraiva, Socorro Laurentino, Luzia, Consolação e tantas outras.
O Patronato passaria por sérias dificuldades, tanto financeiras como administrativas, surgiram durante esse período superior a mais de meio século dessa tão importante e querida entidade educacional de Itapajé. Todas, no entanto vencidas com determinação e trabalho. No início da década de 90 (1990), as Irmãs Cordimarianas abdicam da direção deste colégio, sendo convidado para assumir, como diretor o Professor Osterne, irmão de nosso vigário, Pe. Pascoal Rios Osterne. Sua gestão foi marcada pela severidade administrativa, continuou o trabalho que vinha sendo feito pelas Irmãs Cordimarianas e deu melhor atenção a parte esportiva do colégio. Este estabelecimento educacional muito deve a esse ilustre e competente diretor.
Em substituição ao professor Osterne foi convidado, para dirigir o colégio, a senhora Maria Luíza da Silva Braga, esposa do Sr. João Batista Braga. Mais uma vez o colégio experimentou uma administração séria, altiva e forte. O Conselho de Pais deste colégio, à época de sua gestão era formado, dentre outras, pelas seguintes pessoas: João Batista Carvalho Cavalcante, Francisco Raimundo Martins, Fernando Antônio Santos Sales, Alfredo Vasconcelos, todos funcionários de bancos, com agência  em Itapajé, e, entre outros José Ribamar Ramos, pequeno comerciante.
Passado algum tempo, Luizinha Braga alega impossibilidade de continuar a dirigir essa entidade. Passa então, à direção a vice-diretora, Sra. Eliane Domingos. Essa nova administração dá continuidade a excelência das gestões anteriores, apesar do exíguo tempo de gestão.
No ano letivo de 2000, assume como o novo diretor, o reverendíssimo Pe. Francisco Marques Mota, Pároco de Itapajé. Contou com uma equipe bem sintonizada e ciente de continuar a manter o padrão sócio-educacional de seus antecessores. Grandes reformas foram implantadas pela nova gestão, na época, a equipe de apóio é formada, dentre outras, das seguintes pessoas: Professora Liduina, Professora Mirtes e um grande número de competentes mestres-professores.
Para não me tornar muito prolixo, lembro-me agora, de uma sentença de XENOFONTE, (430 a.C. — 355 a.C.), que diz: “QUANTO A MIM ESCREVO ATÉ ESTE PONTO; O QUE DEPOIS SE PASSOU, TALVEZ OUTRO QUEIRA TRATÁ-LO”. Faço dessas palavras meu desiderato de que assim aconteça!
Ribamar Ramos
27 de maio de 2012

Boa noite / Bom dia!


Um comentário:

  1. Olá. Gostaria de saber quem eram os pais de Miguel Fernandes Sobrinho. Obrigada.

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