RAIMUNDO DE SOUSA CAMELO - QUASE FEIO

Nesta postagem abordaremos um dos personagens mais Bizarro de Itapajé, o Quase Feio. Paulo Vieira de Mesquita, na Folha de Itapajé, de agosto de 1983, narrou este pequeno resumo da vida dessa figura exótica de Itapajé. “Hoje, (agosto de 1983) - quatro anos longe da "serrana", do conhaque do santo de sua devoção, (São João da Barra), RAIMUNDO DE SOUSA CAMELO, vulgo 'QUASE-FEIO, nascido e criado no “Itapajézinho” de açúcar, que não tinha medo de ho­mem nenhum, só dos castigos de Deus, talvez esteja menos engraçado. Figura das mais folclóricas neste município criou ditados e repentes como este citado acima, que fize­ram época nas feiras e botecos da re­dondeza. Portador e principal di­vulgador de uma feiúra proverbial, fez da própria seu carro-chefe.

Pintor de paredes e letreiros, da melhor qualidade, o Feio-Magrão, outro apelido criado por ele, não se esquiva em contar os "causos" em que se envolveu, através dos anos, para alegria da população desta terra idola­trada, segundo suas próprias palavras. No tempo em que "vivia cheio dos paus", dizia: "tenho cinco filhos, Coqueiro e Coquita, Francisco Roose­velt, Nabucodonosor e Wilson Simonal". E justificava: Coqueiro e Coquita, em homenagem aos dois melhores palhaços que já andaram por aqui; Wilson Simonal, o melhor cantor do mundo e, finalmente, tro­cando as bolas, arrematava para maior galhofa: Francisco Roosevelt gover­nou a Babilônia mais de 200 anos, e Nabucodonosor foi Presidente dos Estados Unidos da América.

Uma vez, o “Feio” fez uma romaria a Canindé, no caminhão do Finoca, o mais antigo motorista de caminhão de Itapajé. Mas, não foi rezar na basílica de São Francisco, ficou pelos bares tomando umas e ou­tras. Caiu na calçada, e os compa­nheiros não o encontrando se foram. Eu, particularmente acho que foi pura sacanagem do compadre Finoca. Isso é outra coisa. Quando o Feio acordou, duro, com fome, sem conhe­cidos, não titubeou: “Descalamexou-se” todo, e foi o mendigo-deficiente que mais apurou naquela festa. Chegou depois de três dias, bêbedo, cheio da grana, e mangando de todos.

No fim da década de 40 existiam em Itapajé, alguns simpatizantes de Prestes, (Luis Carlos Prestes, fundador e idealista do comunismo no Brasil). Em determinado 2 de janeiro, QUASE-FEIO foi contratado para pichar os muros da cidade, com “Vivas a Prestes, viva o P.C”, Partido Comunista e outros dísticos do ramo. Meia-noite, e lá vai ele, cumprindo a tarefa. Ao raiar do dia, indo para a matriz, Padre Paulo, pároco da Paróquia São Francisco de Assis, no período de 1941 a 1950, viu a obra, e ficou uma fera. Mandou cha­mar o “Feio”; sem saber quem era o autor. Olha, vai lá na elas pega uma lata de cal, pincel e vai apa­gar esta imoralidade. Sim. senhor. Estou mesmo precisando ganhar uns tro­cados. E começou o serviço. Lá pelas as tantas, passou perto dele um dos contratantes, e perguntou: Que diabo é isso? - Ora, respondeu o Feio, foi o Padre que mandou, mas não tem problema, de noite, vocês me pagam, que eu boto as letras de novo. E faturou dos dois lados, até que cansaram da teima.

Quase-feio, agora, é comerciante. Montou o café "Esperta Sono". Quem diria. Raposa negociando com galinha. Raimundo de Sousa Camelo, nasceu em Itapajé, em 9 de abril de 1924. Casado com a comadre Assunção, seu pai era Sebastião José Camelo e Re­gina Ferreira Camelo.  

Ribamar Ramos

 “Não me incomodo com minha feiúra, já comi e bebi muito as suas custas” -  Quase Feio